O espaço em que seu animal vive é ideal para o tamanho dele?

Com quintais cada vez menores, ou inexistentes, os cães sofrem tanto quanto a gente pela falta de espaço, podendo, inclusive, a ter tendências agressivas. A questão é: o espaço em que seu animal vive é ideal para o tamanho dele?

A falta de espaço nas grandes cidades, aliada ao déficit de moradias, tem como resultado residências cada vez menores. Apartamentos de 20, 30, 40 m2 aparecem cada vez mais nos anúncios que recebemos nos cruzamentos das grandes cidades.

Quintais são um luxo que, para a maioria da população, é inalcançável e se não bastasse deixarmos nosso bem estar de lado para termos uma casa própria, também obrigamos nossos animais de estimação a passarem pelo mesmo problema – um dos maiores danos que podemos causar a um cão grande, garante Marcos Fernandes, médico veterinário Homeopata, mestre em Saúde Pública pela USP e psicanalista. “Mas o pior não é viver em um espaço pequeno, mas, sim, não sair desse espaço. Tenho clientes que moram em apartamentos pequenos, com cães de porte médio, mas que passeiam com seus animais, contratam creches para esse animal ficar duas ou três vezes por semana, ou um passeador. Nestes casos, creio que esse cão não tenha uma vida tão ruim”, explica.

No entanto, o contrário também ocorre. Não basta ter espaço, se esse animal nunca sai de casa. Pessoas com casas grandes, quintais grandes, mas que o animal nunca tem acesso à rua. “O cão para onde olha, vê apenas muros e isso também é extremamente estressante”, enfatiza Fernandes.

Para o veterinário e psicanalista a agressividade está entre os principais desvios de comportamento de um animal, e tende a piorar em um ambiente pequeno, aumentando os índices de problemas relacionados ao stress, desde depressão, TOC, falta de apetite e agressividade, que, inclusive, não é exclusividade de determinadas raças, acrescenta o veterinário.

Segundo ele, um Poodle pode ser mais agressivo que um cão da temida raça Pitbull, e isso também vai depender do ambiente em que vive. “Trabalho com uma teoria em que estudo, através da psicanálise, a leitura do inconsciente do dono no comportamento do cão. Então, muito da agressividade é do dono, suprimida pela sua própria aparência de bonzinho. Na verdade, o dono, muitas vezes, não tem ideia do quanto ele é agressivo. Por outro lado, o cão nunca erra, ele é um espelho do inconsciente do dono. Animais deprimidos, agressivos ou ansiosos costumam ser espelhos de seus próprios donos”, assegura Marcos Fernandes.

A médica veterinária, Priscila Fragoso, supervisora clínica do Hospital Veterinário Sena Madureira e mestre em Clinica Médica pela USP, acrescenta que o animal pode se tornar mais ansioso, mas a agressividade está relacionada com sua personalidade. “Aliado a isso, podemos destacar também a forma como o animal é criado, ou seja, a socialização que ele tem com o proprietário, com outras pessoas e outros animais”, considera.

Além de possíveis problemas comportamentais, um cão que vive em um espaço pequeno também pode apresentar outros problemas de saúde, complementa. “Animais grandes requerem maiores espaços para exercícios e atividades. Caso o animal não o tenha, ele pode apresentar problemas locomotores. Além disso, caso não tenham atividades, eles podem acabar encontrando uma por meios próprios, destruindo objetos pela casa, por exemplo”, reforça Priscila.

O que pensar na hora de adotar um cão?
Ter um animal de estimação não pode ser fruto de uma ação impensada, por impulso. Deve ser algo planejado e sempre tendo em mente que ele é um ser vivo, não um objeto que pode ser descartado a qualquer momento, e o mais importante – que irá viver em média 15 anos. “A pessoa deve saber que adotar um animal é como se estivesse tendo um filho, pois terá as mesmas responsabilidades”, adverte Fernandes.

Do ponto de vista legal, o animal é considerado exatamente como uma criança e o tutor tem os mesmos deveres que um pai tem para com o filho. Tem responsabilidades em relação à saúde, bem-estar, higiene, entre outros cuidados até sua morte, garante o veterinário Marcos Fernandes. “O futuro tutor deve lembrar que os animais precisam de tudo o que nós precisamos, comida, água, higiene, carinho e bem estar, e, que, em algum momento podem ficar doentes, e que devemos estar preparados para isso. Também deve considerar que o filhotinho cresce”, enfatiza.

É preciso, ainda, ter em mente que se o espaço não for muito grande, cães de pequeno ou médio porte se adaptarão melhor. Se o animal for conviver com crianças ou pessoas idosas é também importante avaliar o comportamento do animal e optar por animais mais tranquilos e não agressivos, que aceitem bem o contato físico, recomenda a médica do Hospital Veterinário Sena Madureira. “É complexo saber o que vai acontecer na nossa vida em quinze anos, mas se você pensa em dar a melhor vida para seu cão é preciso ter isso em mente que você terá uma vida para cuidar durante muito tempo”, ressalta Priscila.

Qualidade de vida
Mas o que fazer para melhorar a vida do seu cãozinho se já mora em ambiente pequeno para a família e o animal de estimação? Não pense que será comprando roupinhas, enchendo de perfumes ou o agarrando a toda hora. Para dar qualidade de vida para ele, basta tratá-lo como ele realmente é: um cão, enfatiza o veterinário. “O cachorro tem que ser cachorro, quanto mais ele se aproxima do homem, mais infeliz é, simplesmente por ser menos cão do que ele pode, e quer ser”, explica Marcos Fernandes.

Segundo ele, o processo de humanização é tão grande que o cão não sabe mais o que é. Ele é tratado como um ser humano, de forma exagerada, até mesmo de forma patológica e isso faz com que o animal seja infeliz. E porque fazemos isso? Por carência, acredita Fernandes.  “Sem generalizar, normalmente quem tem um cão é uma pessoa carente, que acaba transferindo essa carência para o animal e o trata como uma criança humana, então, se você quer realmente tratar bem o seu cachorro, trate-o como ele realmente é, um cão”, enfatiza o veterinário.

E isso não quer dizer, de maneira alguma, que o animal deva permanecer acorrentado, algo, infelizmente, muito comum pelo Brasil. “Manter o animal acorrentado é completamente inapropriado. Os cães são animais sociais e precisam de contato com outros cães e humanos. É claro que alguns animais podem ser acorrentados por pequenos períodos, como quando os proprietários vão sair da garagem e para não escaparem, fora isso, mantê-los presos o dia todo é muito ruim. Nesses casos, quando o animal não tem contato com ninguém, ele pode se tornar agressivo, mas por medo do desconhecido”, complementa a veterinária Priscila Fragoso.

Se você mora em um local com pouco espaço, procure animais de pequeno ou médio porte, passeie diariamente com seu cão, ou, se não puder, contrate um passeador, converse com um amigo, mas faça o seu animal sair de caça, ver coisas diferentes, socializar, ele será ainda mais grato a você.

Por Valdir Anttonelli, jornalista e colaborador do Canal de Estimação.

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