A Leishmaniose Visceral é uma doença causada pelo protozoário Leishmania Infantum, que acomete diversas espécies de animais, assim como o homem. A transmissão da leishmaniose ocorre principalmente por meio da inoculação do protozoário por flebotomíneo infectado durante o repasto sanguíneo. Insetos hematófagos do gênero Lutzomyia são considerados os principais vetores da Leishmaniose, no entanto, outros mecanismos como a transfusão sanguínea, transplante de órgãos, a transmissão vertical (por via transplacentária) e a transmissão venérea (durante o coito) não devem ser descartados como uma possibilidade para a transmissão de Leishmania.
O período de incubação da Leishmaniose em cães e gatos pode persistir por semanas, meses ou mesmo por anos, sendo influenciado diretamente por fatores como a carga parasitária infectante, a resposta imunológica do animal, coinfecções, entre outras. Os sinais clínicos podem ser divididos de acordo com o local onde são observados, como:
– Alterações gerais: perda de peso, apatia, vômito, diarreia, febre, palidez de mucosa, epistaxe (sangramento nasal) e vasculite (inflamação do vaso sanguíneo);
– Alterações cutâneas: dermatites com característica esfoliativa, erosiva, nodular, papular ou pustular e onicogrifose, acompanhadas ou não de alopecia (perda de pêlos);
– Ocular: conjuntivite, blefarite e uveíte;
– Musculoesqueléticas: claudicação e miosite;
– Alterações laboratoriais: anemia variável, trombocitopenia, leucocitose ou leucopenia, hiperproteinemia, hiperglobulinemia, hipoalbuminemia, redução da razão albumina/globulina, azotemia, elevação de enzimas hepáticas e proteinúria (Leishvet, 2022).
Apesar de apresentarem um direcionamento ao clínico veterinário, a presença de alterações clínicas não é suficiente para o diagnóstico definitivo, especialmente pela inespecificidade dos sinais clínicos e pela alta frequência de animais assintomáticos. Desta forma, outras ferramentas são essenciais e determinantes para o diagnóstico definitivo. Algumas das principais ferramentas de diagnóstico de leishmaniose canina e felina podem ser observadas abaixo:
– Diagnóstico parasitológico: consiste na visualização direta do parasita em amostras de tecido do animal que podem ser obtidos por biopsia (Punch ou aspirativo) ou mesmo por punção de sangue periférico ou medula óssea, que é processada e posteriormente observada por microscopia. Apesar de altamente específico (a visualização de amastigotas de Leishmania comprova a infecção), este método possui sensibilidade entre 50 e 80% (Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for Terrestrial Animals, 2021).
– Teste rápido (imunocromatografia): este método é considerado desde 2011 a ferramenta indicada pelos órgãos oficiais para a triagem dos cães para a infecção por Leishmania (Ministério da Saúde, 2011). O ensaio se baseia na detecção de anticorpos de classe IgG ou anticorpos totais contra as proteínas k39 e/ou k26. Para os felinos, o teste rápido deve ser utilizado com cautela, uma vez que em sua maioria, o teste é destinado a anticorpos específicos de cães.
– Ensaio Imunoenzimático (ELISA): é considerado o método confirmatório para o diagnóstico da leishmaniose canina. Todos os cães com resultado reagente no teste rápido devem ser submetidos ao ELISA. O ELISA detecta a presença de anticorpos presentes na amostra por meio de ligação enzimática com as proteínas fixadas na placa.. Atualmente, o ELISA é a ferramenta sorológica indicada para triagem da infecção também em felinos e deve ser inserida na rotina de avaliação dos gatos.
– Reação de Imunofluorescência (RIFI): Apesar da ampla utilização desta metodologia, este método não está mais inserido no protocolo indicado pelos órgãos oficias para o diagnóstico da leishmaniose canina devido a grande quantidade de reações falso positivas (Ministério da Saúde, 2011).
– Diagnóstico molecular: detecta a presença do material genético do parasita em amostras biológicas. Assim como o diagnóstico parasitológico, reações positivas nesta metodologia permitem o diagnóstico definitivo da leishmaniose em qualquer espécie. A metodologia de PCR (reação em cadeia pela polimerase) pode ser utilizada também de forma quantitativa, sendo este o método indicado para acompanhamento da carga parasitária em animais que estão recebendo o tratamento para avaliação de sua efetividade. Isto porque, a resposta imunológica é muitas vezes tardia, e a quantidade de anticorpos resultantes da exposição do animal ao parasita não é proporcional a carga parasitária do indivíduo.
As ferramentas descritas acima são essenciais para o diagnóstico da leishmaniose e são aliadas do médico veterinário na rotina clínica e laboratorial.