Manter os cães e gatos vacinados evita que a raiva apareça com mais frequência

A raiva é uma zoonose grave que merece atenção. Infelizmente, antes de casos como os ocorridos em Curitiba, em que só neste ano já foram confirmados 17 casos em morcegos – mais do que o número de casos registrados em todo o ano de 2016, algumas pessoas questionavam a importância da vacinação já que a doença era dita erradicada no Brasil, por não ocorrer um caso humano há muitos anos. No entanto, é preciso entender que por não termos controle da doença em animais silvestres a raiva está mais próxima do que imaginamos. Por isso, manter os filhotes de cães e gatos devidamente vacinados evita que a raiva apareça com mais frequência e que casos humanos sejam diagnosticados.

De acordo com a veterinária Natália Muricy, em humanos, a raiva geralmente é transmitida por seus animais domésticos infectados. Portanto, é bom lembrar que, além de cães e gatos, animais do campo e fazenda, como bovinos, equinos e ovinos também devem ser vacinados para manter a segurança dos rebanhos e dos trabalhadores rurais, assegura.

Na entrevista exclusiva ao Canal de Estimação, a veterinária explica detalhadamente o que é a Raiva Animal, os cuidados a serem tomados, as medidas de prevenção e outras informações importantes para manter a doença longe. Acompanhe com atenção e boa leitura!

 

Canal de Estimação – O que podemos entender como raiva animal?

Natália Muricy – Raiva é uma doença infectocontagiosa, que afeta mamíferos. É transmitida através de secreções, em especial a saliva, por mordedura e lambeduras, que atinge nervos periféricos e centrais e glândulas salivares, onde se multiplica. É uma zoonose, ou seja, também é transmitida ao homem. Necessita de significativa atenção, pois, mata praticamente todos os acometidos. Antigamente era conhecida como hidrofobia, uma vez que os animais acometidos não ingeriam água devido a paralisia. Recebeu o nome de raiva peloS animais se tornarem agressivos e assustados, após o início dos sintomas e por “espumarem” já que não conseguem engolir o excesso de saliva produzido.

CE– Quais são os animais transmissores da raiva?

NM – Basicamente todos os mamíferos, como cavalos, bovinos, ovinos, carnívoros, etc..

Mas,  vale uma atenção especial aos morcegos, os maiores transmissores. Já os carnívoros silvestres como raposas e lobos, e animais domésticos como cães e gatos, são os que transmitem, principalmente, ao ser humano.

 

CE – Como podemos identificar se o animal está infectado com a raiva?

NM – O diagnóstico é fechado laboratorialmente, mas podemos supor que o animal tenha raiva pela visualização dos principais sintomas que são mudanças comportamentais como animal se tornar agressivo ou muito acanhado e se esconder assustado. Excitabilidade, agitação e ansiedade, sensibilidade exagerada, alterações de salivação em que o animal baba muito (popularmente dito que o animal está espumando pela boca), febre baixa, perda de função muscular e de sensibilidade em algumas partes do corpo, dificuldade em engolir e ingerir alimentos e água, espasmos musculares e até convulsão, são alguns sintomas. Embora estes sejam sintomas também de outras doenças, é muito importante isolar os animais, evitar contato direto e fechar o diagnóstico para melhor tratamento.

 

CE – Como a raiva animal é transmitida para os animais como cães e gatos?

NM – A raiva pode ser contraída de um animal para o outro principalmente por mordeduras, arranhaduras, lambidas, placenta e aleitamento. Geralmente cães e gatos transmitem entre si. Animais domésticos podem pegar também de animais silvestres em áreas rurais como raposas e lobos. Os animais errantes podem roer restos de animais contaminados, mas o mais comum é a transmissão por morcegos, principalmente em áreas urbanas. Morcegos hematófagos passam aos animais pela saliva enquanto se alimentam, usam a lambedura da lesão formada após a mordedura para manter o sangue fluido e o ingerirem, e, essa lambedura passa a doença. O mais comum são morcegos contaminados entrar nas casas e cães e gatos curiosos se aproximam dos mesmos para cheirar e brincar. O morcego assustado reage mordendo e transmitindo o vírus a esses animais. É importante ressaltar que mesmo os morcegos não hematófagos, como os frutíferos, também transmitem a doença, uma vez que a tendência de animais assustados é se defender através de mordedura.

 

CE – Uma vez infectado, qual deve ser o tratamento do animal (cão e/ou gato)?

NM – Infelizmente praticamente todos os animais afetados pela doença vem à óbito e já que não se conhece tratamento eficaz, recomenda-se, no entanto, que uma vez sabendo que o animal foi infectado recentemente seja vacinado para tentar uma imunização tardia, essa recomendação também é dada a seres humanos, com ótimos resultados.

Animais que desenvolvem sintomatologia, bem como seres humanos evoluem para o óbito e se faz tratamento de suporte para controle dos sintomas como alimentação por sonda nasogástrica, hidratação entre outros. No entanto, esse tratamento suporte ocorre mais no homem do que no animal, uma vez que o paciente irá a óbito pela doença, o animal é encaminhado ao sacrifício para evitar o sofrimento até a partida natural. É importante ressaltar que a eutanásia é permitida na medicina veterinária para pacientes graves e é o mais indicado nos casos sintomáticos da raiva para evitar o sofrimento do animal. Infelizmente o paciente humano na maioria das localidades, no Brasil por exemplo, não é permitida e por isso é utilizado o tratamento de suporte, buscando amenizar a sintomatologia até a morte natural do indivíduo.

 

CE – Quais devem ser as medidas de prevenção dos responsáveis por cães e gatos para que os animais não peguem raiva?

NM – Vacinação correta e anual, preferencialmente feita por um médico veterinário. Além disso, é fundamental telar apartamentos e casas, evitar que seu animal tenha acesso a rua livremente e que tenha contato com animais não vacinados.

 

CE – Como é o procedimento de vacinação de cães e gatos contra a raiva?

NM – A vacinação antirrábica é feita anualmente, embora alguns países como os estados unidos vacinem a cada 3 anos. A vacina, injetada por via subcutânea, é específica para a doença e geralmente é aplicada por um médico veterinário. É importante ressaltar que, no Brasil, a vacinação feita por médicos veterinários é feita com a vacina importada não pela má qualidade da nacional, mas porque infelizmente o controle da mesma nem sempre é eficaz. Há casos de mau armazenamento, principalmente em casas de ração, onde o funcionário mal treinado desliga a geladeira ou não acompanha variações de temperatura e as cepas morrem. Tal recorrência reforça a necessidade de a vacina ser aplicada por um médico veterinário, pois os mesmos sabem a temperatura e o devido armazenamento que as vacinas devem ter e são responsabilizados pelas vacinas que aplicam.

 

CE – A partir de que idade devem ser vacinados contra a raiva?

NM – Cães e gatos devem ser vacinados a partir de 4 meses anualmente. Geralmente associam a data aos reforços de outras vacinas importantes para o animal. No filhote não é recomendado que seja aplicada antes de quatro meses uma vez que anticorpos da mãe passados pelo aleitamento podem interferir na imunização completa e ideal do animal, não é necessário reforço antes de 1 ano.

 

CE – As Campanhas de Vacinação anti-rábica acontecem, geralmente, quantas vezes ao ano, pelas prefeituras?

NM – As campanhas das prefeituras ocorrem geralmente anualmente, mas já ocorreram com intervalos de 2 anos ou mais, assim como em intervalos inferiores a 6 meses, dependendo da necessidade naquele momento, como por exemplo, se foram encontrados animais confirmadamente infectados, se houve algum problema vacinal durante a campanha, como há alguns anos em que cães e gatos vieram a óbito após serem vacinados na campanha.

 

CE – Quem puder e quiser pagar pela vacinação, quanto custa em média a vacina contra raiva?

NM – A vacinação antirrábica tem o preço mais ou menos entre R$50,00 e R$70,00, sempre aplicada por um médico veterinário. Em casas de ração pode-se encontrar as vacinas nacionais com valor mais barato, mas não é recomendado.

 

 

 

Natália Muricy é médica veterinária sob o registro profissional: CRMVRJ 12551

Dúvidas e outras informações: veterinariamuricy@gmail.com

 

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